alt text

Política

Artigos de opinião sobre política no Brasil e no Mundo.

alt text

Armamentismo

Saiba tudo sobre o tema com foco em defesa pessoal, esporte, manejo de fauna invasora, colecionismo e caça de subsistência.

alt text

Preparação

Num mundo de grandes mudanças e incertezas, poder se antecipar a problemas faz diferença.

O que leva uma fábrica de armas a ser desarmamentista?

Em um mundo lógico, fábricas de armas defenderiam o acesso responsável a armamentos por parte de cidadãos legais. Em um mundo lógico, defenderiam políticas públicas que estimulassem a liberdade com responsabilidade, e não a burocracia com seletividade. Mas vivemos no Brasil — e por aqui, algumas fábricas parecem operar sob uma lógica diferente. Uma lógica onde quanto menos concorrência, melhor. E onde o controle excessivo pode ser um ótimo aliado… para quem já está estabelecido.

Há quem se pergunte: por que uma empresa que vive da venda de armas apoiaria, direta ou indiretamente, políticos e medidas que tornam o acesso a armas mais difícil? A resposta pode não estar na ideologia, mas na estratégia.

Entraves como vantagem competitiva

Imagine um mercado altamente regulado, com autorizações demoradas, normas que mudam com frequência e um órgão militar centralizado que fiscaliza tudo — esse é o cenário brasileiro. Agora imagine uma empresa que já está dentro do jogo, com todos os certificados, contatos, canais de distribuição e influência política necessários para operar. Para essa empresa, qualquer nova regra complexa é um filtro contra concorrentes. Quanto mais difícil for entrar no mercado, mais ela lucra por exclusão.

Não é teoria da conspiração: trata-se de um padrão já visto em muitos setores. Empresas consolidadas, quando percebem que o crescimento da concorrência pode afetar suas margens, deixam de apostar em inovação ou eficiência e passam a apostar em barreiras regulatórias. Em vez de melhorar seus produtos, trabalham para tornar impossível a entrada de novos produtos.

A munição “protegida”

Um exemplo desse tipo de prática está em propostas que tentam vincular a venda de munições à obrigatoriedade de tecnologias específicas, como marcações individualizadas ou rastreamento digital por código de barras. A ideia, vendida como uma medida de segurança pública, na prática inviabiliza a importação de munições comuns, pois poucas ou nenhuma fabricante no mundo utiliza tal sistema — exceto, claro, aquela que propôs ou domina a tecnologia.

Esse tipo de medida cria um monopólio técnico disfarçado de avanço civilizatório. É uma tática clássica: usar a burocracia como cerca, a segurança como argumento e o lobby como trator.

O “novo” calibre e o jogo da semântica

Outro caso curioso envolve o lançamento de um novo calibre “exclusivo”, com medidas milimetricamente ajustadas para caber exatamente nas novas restrições impostas por decretos ou portarias que tornaram calibres populares restritos. Coincidência ou não, o novo calibre surge logo após as proibições — e é alardeado como solução doméstica, patriótica, “dentro da lei”.

O mais impressionante é ver como parte da comunidade CAC — geralmente crítica às restrições — abraça esses lançamentos com entusiasmo, ignorando o contexto. Aplaudem o “engenho nacional”, sem perceber que estão celebrando um paliativo para um problema criado artificialmente.

Quando o desarmamentismo vira estratégia de negócios

É preciso entender que, no mercado, nem sempre os interesses ideológicos prevalecem. Muitas vezes, a motivação real é corporativa: defender o desarmamento como forma de proteger nichos, manter contratos com governos, monopolizar calibres e sufocar concorrentes estrangeiros ou nacionais que não tenham os mesmos recursos para navegar no labirinto regulatório.

Não se trata de crime, mas de estratégia, embora haja aí uma zona cinzenta ética difícil de ignorar.

O papel do CAC nesse jogo

O mais curioso, porém, é o papel desempenhado por parte da própria comunidade de atiradores. Muitos CACs parecem não perceber esse jogo. Reproduzem discursos oficiais, compartilham vídeos promocionais, defendem medidas que afetam a eles mesmos — desde que a narrativa venha revestida de “tecnologia nacional”, “inovação” ou “segurança”. Uma espécie de síndrome de Estocolmo regulatória.

Ao apoiar medidas que tornam o mercado menos livre, acabam sendo cúmplices da própria limitação de escolha — e, por consequência, da elevação de preços e redução de qualidade, já que a concorrência é o principal motor da evolução de produtos.

Uma fábrica de armas que adota o desarmamentismo como estratégia pode estar menos preocupada com segurança pública e mais preocupada com manter o controle de um mercado fechado, regulado e conveniente. Em um ambiente onde o Exército tem o poder de barrar qualquer equipamento novo, onde a importação depende de portarias e onde cada nova exigência técnica pode representar anos de atraso para os concorrentes, o lobby não precisa ser feito com megafone. Basta uma caneta.

E enquanto parte da comunidade segue distraída com lançamentos milimetricamente calibrados, o verdadeiro tiro está sendo dado — nas costas da liberdade de mercado.